Se observarmos o crescimento de uma criança conseguimos compreender que a sua maturação física é também proporcional às suas competências motoras e, portanto, estas desenvolvem-se concomitantemente em constante ligação.
Neste processo simbiótico, escreve-se uma história de histórias, memórias e processos emocionais que ficam inscritos no corpo e com os quais aprendemos a exprimirmo-nos e a ser o que realmente somos – únicos.
Assim, o desenvolvimento de uma criança não se reflete unicamente nas metas e nos marcos a alcançar, mas nas construções que se vão realizando apoiadas nos afetos. Para que este processo se concretize, há uma história que, enquanto cuidadores, devemos ajudar a escrever e a inscrever.
Ora, chamemos à liça o papel do movimento como um dos agentes primordiais, ou seja, como uma ferramenta tanto para agir com o meio físico, como para comunicar com o outro, sendo, por isso, fundamental para o pleno desenvolvimento da criança.
Ao observarmos, atentamente, o movimento na criança verificamos que este é a sua forma mais pura de manifestação da sua verdade, dos seus desejos, das suas frustrações, dos seus medos, alegrias ou angústias. É a sua comunicação antes da linguagem falada. É por isto preciso assim compreender que o agir da criança é também parte fundamental do seu desenvolvimento, é a sua melhor ferramenta de aprendizagem.
A criança para se desenvolver precisa de se movimentar. Experimentar. Observar. Manusear. Desafiar. O processo de aprendizagem é fortemente sensorial e sobretudo emocional. Para avançar, a criança tem de se sentir segura, mas para se sentir segura tem de nos sentir confiantes e nós devemos confiar no seu processo. Como? Apoiando, incentivando, escutando, partilhando, sendo presença segura.
Tomemos, como exemplo, a queda. Embora a receemos pelas crianças, a queda faz parte do processo. A ferida no joelho faz parte. Repare-se, a criança que cai é a criança que se levanta. A criança que caiu é a criança que aprendeu a gerir o corpo e a reequilibrar-se, a balancear-se, a sentir percetivamente a queda e o prazer de se reerguer e de continuar. Esta experiência motora traz inúmeras vantagens cognitivas e emocionais para o desenvolvimento. Bem como o desorganziar e organizar, destruir, construir. Mas não só. Para a aprendizagem também. Da mesma forma, a criança que gesticula, a criança que dança e brinca livremente o simbólico é a criança que se move para se comunicar, que desenhou e que vai escrever, tudo pelo movimento motivado pelo afeto e o prazer de agir.
Observamos que há uma necessidade crescente e natural da criança em explorar e experimentar o contexto, da mesma forma que fica cada vez mais competente para perceber a aprender fenómenos mais complexos, a regular-se melhor e a comunicar-se, a entender o mundo e o outro melhor. Neste processo evolutivo, os primeiros movimentos globais e desorganizados começam a dar lugar a movimentos localizados e diferenciados que progressivamente se tornam expressivos, mímicos e destes chegamos à palavra e da palavra à escrita.
Assim, a experimentação permite à criança a sentir-se segura de si, viva, como que uma conquistadora. Escrevendo no corpo uma história de histórias. Organizada e forte no seu corpo, a criança é capaz de partilhar e de aprender porque consegue estar disponível para o que a rodeia. Está segura de que consegue e curiosa de saber mais.
É importante também não esquecer que o desenvolvimento é um processo bastante complexo, de vários entendimentos teóricos e com toda a certeza influenciado por múltiplos fatores, internos e externos à criança e que o movimento e a sua libertação é fulcral, mas também e sobretudo o afeto neste processo, a presença, o limite, as rotinas e tantos outros fatores.
Não há, na verdade, receitas perfeitas. Mas há ingredientes que podem fazer a diferença. Hoje, sugerimos apenas dois de tantos outros fundamentais: o afeto e o movimento.
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